domingo, 18 de outubro de 2009

CSI AMARAL - 1ª TEMP. EP. 5 - A VERDADE DA MENSAGEM

Acabava de regressar  de mais um workshop dos "Torturadores Anónimos" quando à porta de casa fui abordado por uma fiscal da EMEL que me entregou um envelope daqueles onde costumam enfiar as multas.



Fiquei de pé atrás.
Primeiro porque não tenho carro, depois porque aquelas caras não me eram estranhas, e por fim porque um grupo de jovens com bandeiras que, nas imediações, gritavam "Ninguém Segura a Manela" me parecia tão deslocado quanto um toureiro num comício do Bloco de Esquerda. O meu faro de velho policial não costuma enganar...
Chegado a casa enchi um copo de aguardente de merda, liguei a alta-infidelidade que me ofereceram quando abandonei a PJ, pus a tocar o Hino da Mocidade (sim, porque recordar é viver e mesmo um velho operacional como eu também tem sentimentos) e dei uma vista de olhos rápida aos 281 emails dos últimos avistamentos da pequena Maddie.
Abri então o envelope.
Em vez da multa encontrei um papel com um acentuado odor a "bien-être".
Rezava assim:
"Meu estimado ex-futuro candidato à Câmara de Olhão.
Desculpe ter de o contactar desta forma mas perceberá que tal se deve à asfixia democrática em que vivemos.
Tenho um piqueno problema: Avizinha-se o Congresso e sei que há muitos agitadores no meu partido que se preparam para me derrubar da cadeira do poder e se calhar mesmo para me surripiarem a escalfeta em que aqueço os joanetes. O seu principal argumento é o de que sob a capa da "política de verdade" conduzi uma campanha de mentiras.
Sei que só você poderá ajudar-me a provar o contrário.
Pode dar-me esta piquena ajuda?
Com os melhores cumprimentos desta sua admiradora anónima que se assina Manela.
PS (D, claro) - Não deixe esta carta cair nas mãos do Diário de Notícias nem do Luis Filipe Menezes."
O meu olhão de quase candidato a olhão não me tinha enganado.
Apeteceu-me dizer "Elementar, meu caro Moita Flores".
Finalmente tinha uma missão fácil.
Bastava passar em revista alguns dos outdoors do Partido. Eram a prova insofismável de que a mensagem da campanha da matriarca era genuinamente verdadeira.
Muni-me de duas garrafas de ginginha porque as noites ameaçavam arrefecer e fui para o terreno.
Não tardei a descobrir o primeiro exemplo.
Tudo tinha já começado nas europeias:



A mensagem prometia e Rangel cumpriu. E ei-lo que está a fazer o Erasmus do seu primeiro emprego em Bruxelas.
É a verdade absoluta.

E continuei o périplo pelo país.
Em Matosinhos encontrei outro exemplo:



Querem mais verdade que isto? O outdoor apresenta a candidatura de Guilherme Aguiar à Câmara de Matosinhos, mas o próprio cartaz avisa desde logo que "Matosinhos merece melhor".
E os eleitores agradeceram o aviso e não o elegeram.
Querem mais verdade que isto???

Mesmo no país mais profundo pude encontrar exemplos da profunda verdade da propaganda do Partido:



A honestidade política da mensagem ia mesmo para lá da mensagem em outdoor.
Como se podia ver neste exemplo:



Este candidato ao engarrafar um vinho para a sua candidatura estava mesmo a dizer "Se vais votar não me bebas!", que é como quem diz, "Se beberes não votes em mim!"

E mesmo em Lisboa encontrei um exemplo da maior honestidade e verdade política que se pode exigir a um partido:




Mais claro que isto só mesmo dizer "Votem em António Costa!" E isso não se podia dizer porque iria criar problemas no seio da coligação. O CDS/PP provavelmente não iria gostar e no caso do PPM já tinham demorado 3 semanas a ensinar o Câmara Pereira a dizer "Pedro Santana Lopes" sem se enganar. Para aprender a dizer António Costa necessitariam de mais umas 2.

Tinha cumprido com êxito a minha missão. Mas decidi coroar o todo com "a cereja no topo do bolo".
Descobri o outdoor onde a Dra. Manuela expôs, com toda a clareza, o seu pensamento político. De verdade!!!



Nada satisfaz mais um coriáceo inspector como eu, do que o cheiro acre da pólvora e a satisfação do dever cumprido.
E assim vai o país prófundo!


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